terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Uma analise psicológica da relação jornalismo x sociedade

Em tese, os produtos jornalísticos são leituras feitas da “realidade”. O jornalista seria o leitor da realidade e decodificador da informação repassada aos leitores. Esses leitores da informação decodificada também carregam a responsabilidade de serem re-leitores da realidade que os cerca e da infinidade de informações que recebem diariamente através do maravilhoso fenômeno da comunicação.

Esse processo foi sendo quebrado ao longo do tempo. Na realidade atual, o jornalismo não tem “construído a realidade”, mas apenas reproduzido-a de forma completa ou parcial. O mais incrível é que
o jornalismo não tem precisado mentir para manipular uma mensagem.

A deficiência na capacidade de leitura dos receptores da informação “decodificada” (população), alia-se à informação manipulada e/ou convencionada veiculada pelos Meios de Comunicação de Massa. A sociedade recebe essa “comunicação deturpada” diariamente e exterioriza os reflexos dessa comunicação distorcida na sua formação cultural.

Esse processo tem se intensificado tanto, que a sociedade não tem conseguido mais nem questionar esse ciclo vicioso de receber informação “agradável aos ouvidos” de “uma mídia que realmente se preocupa com os seus leitores, ouvintes, telespectadores, navegadores,…”.

A mídia criou as suas próprias armas para obter em suas mãos os indivíduos sem capacidade para questionar a realidade. A mídia atuou e ainda atua no comportamento humano, tão estudado pelo Behaviorismo ou teorias comportamentais da psicologia. A mídia tem condicionado o comportamento humano para que esses indivíduos se comportem em prol da própria mídia.

UM PASSEIO PELOS CONCEITOS DA PSICOLOGIA (CONDICIONAMENTO RESPONDENTE E CONDICIONAMENTO OPERANTE)

Existem dois tipo de “condicionamento”: o condicionamento “clássico ou respondente” descoberto por Ivan Pavlov que segundo BOLTON e WARWICK (2005, p.113) “é o processo pelo qual um estímulo normalmente neutro se torna um estímulo condicionado, provocando uma resposta em um indivíduo”; e o condicionamento “operante”, que é a base da corrente de Skinner que, ainda segundo BOLTON e WARWICK (2005, p.115) “é um processo pelo qual a resposta de um indivíduo é seguida por uma consequência (positiva ou negativa), e essa consequência nos ensina a repetir a resposta ou diminuir sua ocorrência”.

No condicionamento respondente o processo de aprendizado é reflexivo e não depende de conseqüências, e no operante o aprendizado é mais complexo e depende do tipo de conseqüência provocada pela resposta. Assim o Condicionamento é uma forma básica de aprendizado que envolve uma resposta simples ou uma série complexa de respostas a determinados estímulos.

A MÍDIA CONDICIONA O COMPORTAMENTO HUMANO

Segundo Skinner, sucessor de Watson na Escola Benhaviorista ou Comportamental, o comportamento humano pode ser condicionado e para esse processo ser melhor entendido, faço uso do exemplo clássico da “alienação consumista”. Um recurso de marketing utilizado pelas lojas é oferecer promoções e brindes que impulsionam os clientes a voltarem à loja. Quando voltam e são cercados por mais ofertas e brindes, por mais que haja outra infinidade de lojas, sem perceber, o comprador se vê comprando somente naquela loja que lhe ofereceu as “premiações”. Esse indivíduo está condicionado àquela loja. O indivíduo associa os prêmios a algo bom (à possibilidade de comprar). É essa associação que condiciona ou modifica o comportamento.

A mídia cerca os indivíduos, seja com publicidades ou sensacionalismos, para sustentar uma sociedade movida pelo consumismo e pelo entretenimento. Se propõe uma sociedade que não questione a sua própria realidade e que simplesmente aplauda os “valores” midiáticos e consuma tudo o que o capitalismo lhe propõe. Se observa um jornalismo traiçoeiro, no qual a notícia é manipulada e subjugada sob os jogos de interesse. Esse interesse pode estar ligado a várias coisas.

Os veículos de comunicação que fazem uso do sensacionalismo chamam a atenção para si por meio desses dois fatores: a punição e a transgressão. Não se trata de um fenômeno novo. É talvez a mais antiga ferramenta para aumentar as vendas de produtos de comunicação e implica em uma opção editorial. O produto sensacionalista baseia-se em uma linguagem específica, chamada de “clichê”.

A mídia oferece à sociedade coisas que os indivíduos querem ouvir, ou seja, estimula os indivíduos para adquirir deles uma resposta. Oferece “preços baixos” e promoções que parecem facilitar a vida do consumidor. Expõe a realidade do pobre e do rico nas telenovelas e junto com elas dita as regras para cada uma das duas. Também se oferece um jornalismo tido como imparcial e comprometido com a verdade onde também se encontra jogos de interesse e informação direcionada a públicos específicos, com a incrível capacidade de informar a uns (o público que se quer alcançar) e entreter com sensacionalismos a outros (o público que não se quer alcançar).

No jornalismo, a violência, por exemplo, pode ser detectada em críticas ferinas, em editoriais agressivos, em artigos emocionais, em fotos marcantes e em reportagens denunciadoras. A violência está “disfarçada” e “ilegível” na forma editorial. Nos jornais sensacionalistas, essa violência faz parte da linguagem e da forma de edição. A cada público, de acordo com a medida de sofisticação, se direciona a informação de forma específica. Cada um desses públicos também exige as formas como uma projeção da sua violência.

O movimento de modernização da imprensa brasileira, por exemplo, se refletiu na própria atividade jornalística e no perfil do profissional da imprensa. Em vista disso, hoje, os jornais sabem como falar com cada tipo de público. Cada jornal ou emissora tem o seu público específico e as agências geralmente têm departamentos específicos de estudos de como falar com o seu público e qual o padrão ou linha editorial devem seguir. É assim que o jornalismo tem se comportado. Ele caminha para o topo desse rumo utilizando os instrumentos de condicionamento, os quais têm sido eficazes às agências produtoras de informação.

REFERÊNCIAS:

ABREU, Alzira Alves. A modernização da imprensa (1970-2000).

Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2002.

BOLTON, Lesley e WARWICK, Lynda L. (2005) O livro completo da Psicologia. Explore a psique humana e entenda por que fazemos as coisas que fazemos. (M.M. Leal). São Paulo: Madras. 284 p.

Por Luiz Cláudio dos Anjos Fernandes

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