terça-feira, 2 de julho de 2013

Projeto ajudará pescadores na amenização de ameaças às vidas do rio

Atitudes de metrópole e pesca (artesanal e industrial) estão matando botos cinza e toninhas. Em vista disso, projeto do IFPA pretende ajudar pescadores a evitarem incidentes  

A história da cidade de Belém está associada diretamente ao rio. Tanto a metrópole, com ritmo de cidade grande, à beira do rio, quanto a população ribeirinha das ilhas ao redor da cidade. Ao perceber os impactos do centro urbano sobre o rio, a pesquisadora Shirley Tozi sentiu a necessidade de um estudo sobre o universo simbólico da água para os belenenses e os pescadores das ilhas, identificando os malefícios que a cidade trás para o rio. Mas outro
pesquisador percebeu que o pescador, que utiliza métodos, sejam eles rudimentares ou sofisticados de pesca, também provoca impactos ambientais através da pesca artesanal e industrial. Foi com a finalidade de buscar respostas e soluções para as formas de agressão às águas que surgiram dois projetos do Instituto Federal do Pará (IFPA), ambos como propostas de extensão.

Fica localizada na Amazônia a maior bacia hidrográfica do planeta. Em virtude disso, a história da primeira capital da Amazônia, Belém, não poderia iniciar desassociada do elemento que é referência para a região – o rio. Foi por meio das águas que teve inicio a cidade. O estabelecimento do primeiro núcleo do município remonta ao contexto da conquista da foz do rio Amazonas, por forças luso-espanholas que, em 1616, fundaram o Forte do Presépio. A povoação que se formou ao redor foi crescendo e hoje constitui uma região metropolitana com mais de 1.794.981 habitantes. Com o objetivo de conhecer mais afundo esse imaginário natural e os impactos da cidade sobre os ribeirinhos e o rio, a coordenadora do curso de Geografia do IFPA, Shirley Tozi, iniciou um levantamento de informações.



Da mesma forma, o projeto “Pesca artesanal e seus impactos sobre pequenos cetáceos no litoral amazônico”, do professor Roberto Vilhena, está avaliando os impactos causados pelos pescadores que lançam as redes e acabam capturando os cetáceos (animais marinhos pertencentes à classe dos mamíferos), que no caso dos rios amazônicos, são os botos, causando a morte dos animais. Tanto a pesca artesanal (de pequena ou larga escala) praticada pelos pescadores tradicionais da região quanto a pesca industrial têm sido vilãs para os mamíferos das águas.

Todos os dias a professora Shirley se reúne com os 3 bolsistas do curso de Geografia do IFPA. A missão é árdua. Afinal, a área de atuação é grande. Ao longo da orla da cidade as entrevistas são feitas com pescadores, atravessadores (que atuam com o transporte de pessoas em embarcações) e trabalhadores do Portal da Amazônia. Na Bacia do Una a pesquisa se volta para as pessoas ligadas às atividades dos portos. Já às margens do Tucunduba, o foco é para os portos e a atividade dos ribeirinhos. De acordo com as etapas do projeto, a equipe está analisando o papel do rio no processo de transformação urbana de Belém e as relações estabelecidas entre a vida urbana e as mudanças ambientais ocasionadas por esse devir. Posteriormente, a pesquisa estudará a negação da identidade ribeirinha e o “resgate” da vida dos ribeirinhos em Belém. 

Problema ambiental - Belém é banhada pela Baía do Guajará. Conforme a pesquisa, a rede de abastecimento chega a 80% em Belém, mas, somente 4,5% da descarga domiciliar está conectada à rede coletora, o que provoca o descarte inadequado dos dejetos em 14 bacias que abastecem a cidade, 11 delas ligadas ao rio Guamá. De acordo com a coordenadora do projeto, sua proposta de estudo serve de subsídio para outras pesquisas. "Através dela conseguimos analisar a representação dos rios para Belém e para a sociedade que a coabita", diz.

A pesquisa de Shirley será um auxilio para outro estudo. Em outros ambientes de pesquisa – Curuçá, Mosqueiro, Bragança e Soure - o pesquisador Roberto Vilhena e mais 6 bolsistas estão estudando a partir de exemplares de botos capturados acidentalmente através de redes de pescadores, o tamanho populacional das espécies, as taxas de mortalidade e demais dados importantes. Eles pretendem identificar o status de conservação das espécies e compor subsídios para estratégias de manejo dos botos e das toninhas.

De acordo com a pesquisa, na costa brasileira, o boto cinza (Sotalia guianensis) e a toninha (Pontoporia blainvillei) são as espécies mais vulneráveis a atividades pesqueiras. Para os pesquisadores, em virtude dos incentivos ao desenvolvimento da economia pesqueira no Pará, observa-se o aumento de embarcações e acidentes provocados por redes, ocasionando a mortalidade das espécies.

Esta pesquisa envolve etapas. Primeiramente busca-se conhecer em quais frotas pesqueiras ocorrem capturas acidentais de mamíferos e caracterizá-los. Após isso a pesquisa quantificará as capturas acidentais para posteriormente definir as áreas e períodos de maior ocorrência. 

Ação - O projeto também visa promover, como uma das etapas finais, a conscientização dos pescadores. “Atualmente o projeto está realizando atividades de campo para levantamento de dados”, explica o professor. Outro projeto, ainda em fase de aprovação, viabilizará a utilização de um alarme acústico que emite um som e afasta o boto das redes dos pescadores. O equipamento ainda está em fase de teste por pesquisadores da USP e será testado numa parceria entre a  Fapespa e a Fapesp, através de um projeto. De acordo com o professor, o Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia (GEMAM) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), parceiro do IFPA, está batalhando por esta parceria.

Segundo Roberto, os resultados da pesquisa devem servir de subsidio para a tomada de decisões sobre a regulamentação da pesca na costa norte brasileira afim de resolver o problema do impacto sobre as espécies. A frota paraense responde pela maior parte das atividades de pesca realizadas na região e, segundo o professor, consequentemente deve ser a que causa maior impacto sobre os cetáceos. “Ou seja, através dessa pesquisa conseguiremos ajudar a resolver um grande problema da região – colaborar para a diminuição da morte desses animais”, diz.

Identificação - É possível saber, através do tipo de peixe que os botos estão comendo, os locais ocupados por eles. Os pesquisadores retiram partes de cartilagem de peixes de dentro do estômago dos botos e, pelo tamanho delas, avaliam o tipo, a quantidade e o tamanho do peixe que os mamíferos comem.

O projeto está sendo desenvolvido em parceria com o GEMAM, que participa da co-orientação nos projetos e fornece recursos para as atividades de campo. Há 4 alunos bolsistas, 1 técnico pelo Pibict e 1 técnico pelo Pibex.

Por Luiz Cláudio Fernandes


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