segunda-feira, 1 de julho de 2013

Biomassa e luz solar: melhores para o Pará

Pesquisa de professor do IFPA indica modelo de matriz elétrica para o estado disposto a promover o desenvolvimento sustentável. Modelo nuclear não seria indicado para a região.

Recentemente o mundo acompanhou a crise nuclear no Japão provocada pelos problemas com as usinas nucleares de Fukushima Daiichi e de Onagawa. Esse país optou por esse modelo energético caracterizado pela geração de energia através de energia nuclear, que se caracteriza pelo uso de materiais radioativos que através de uma reação nuclear
produzem calor. No Brasil há 2 usinas nucleares em funcionamento, ambas no Rio de Janeiro – Angra 1 e Angra 2. Uma pesquisa recente do pós-doutor Fabrício Borges mostrou por que um modelo como esse não seria apropriado para o estado do Pará. Fabrício é professor do Instituto Federal do Pará (IFPA) onde leciona para 12 cursos. A pesquisa também indica um modelo de matriz elétrica para o estado prevista para 2020, que de acordo com o professor, seria o mais indicado para a região. Ele propõe a energia oriunda da biomassa e do sol.

Os países optam por diferentes modelos energéticos. Os mais conhecidos como agressores do meio ambiente são os de energia gerada através das hidrelétricas e das usinas nucleares. Há, porém, as fontes conhecidas como alternativas ou renováveis, que não causam impactos ambientais, como a energia oriunda da biomassa (substâncias de origem orgânica), do sol, do vento (energia eólica), entre outras. A pesquisa do professor tem gerado interesse nos órgãos de pesquisa, os quais têm procurado conhecer de perto a proposta. A pesquisa tem repercutido nas principais revistas científicas e jornais do país. A próxima publicação de artigos do professor sobre o assunto será na revista brasileira de energia, um periódico cientifico de renome no Brasil.

O Pós-Doutor explica que matriz elétrica “compreende formas de eletricidade disponibilizadas aos processos produtivos em determinado contexto ou localidade, envolvendo suas fontes de geração e utilização”. Fabrício propõe fontes mais viáveis e menos poluentes. Segundo ele, as matrizes elétricas ideais para serem adotadas pelo Pará seriam a solar e a biomassa, acompanhadas da atual fonte de geração – as hidrelétricas. O capital movimentado pelas indústrias de energia renovável seria de aproximadamente US$ 600 milhões em 10 anos. “Os 20.000 novos postos de trabalho em 10 anos são representativos na medida em que se referem apenas às indústrias da cadeia da energia solar”, diz ele.

O estudo mostra que o panorama energético do Pará atual, baseado nas hidrelétricas, não colabora com a atmosfera e o processo de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. Além disso, os resultados registram o desaparecimento de espécies da fauna e da flora, a perda da qualidade de vida das populações atingidas e ameaças à existência de grupos sociais. Segundo o professor, por causa desses fatores a hidroeletricidade não pode ser considerada uma energia limpa, como se diz. Ele também diz que os grandes projetos (hidrelétricas) atraem mais de 100 mil pessoas com promessas de emprego e, consequentemente os problemas sociais ocorrem nesses lugares.

Apesar disso, Fabrício não descarta a utilização de hidrelétricas. Segundo ele, “a usina hidrelétrica de Belo Monte já é um fato”. De acordo com ele será mais um empreendimento como o de Tucuruí acompanhado de problemas ambientais. Ele diz que apesar de as hidrelétricas serem maléficas para a região, não se pode deixar de dar importância a elas, visto que a região precisa de grande quantidade de energia, o que é possível apenas através de hidrelétricas. Além disso, de acordo com o professor, as hidrelétricas têm sido consideradas “energia limpa” pelo fato de serem renováveis, mas a hidrelétrica, segundo ele, não pode ser chamada de limpa, pois causa problemas ambientais.

Por que não a nuclear? - Fabrício não indica a energia nuclear. “Além de ser um auto risco para a sociedade, esse tipo de fonte exige um desenvolvimento maior de tecnologia. Se nós temos condições de ter outras fontes aqui, por que investir na nuclear então?!”, questiona.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), os investimentos em energias renováveis como a eólica, a solar e a biomassa no mundo, ao longo de 2007, registrou crescimento de 60% em relação ao ano anterior, com US$ 148 bilhões aplicados no setor. Por outro lado, as emissões de gases que causam o efeito estufa correspondem a 49 bilhões de toneladas de CO² lançadas todos os anos na atmosfera. Dessa quantidade, aproximadamente 26 bilhões de toneladas estão vinculadas à produção de energia elétrica não-renovável.

Segundo registros de 2005, hoje a fonte hídrica é responsável por 96% da geração de energia na região. O professor Fabrício acredita que as energias oriundas da biomassa e do sol poderiam ser responsáveis por aproximadamente 19% da matriz. Assim, a hidrelétrica teria a sua responsabilidade diminuída de 96% para 80%. Atualmente, as fontes solar e da biomassa respondem por apenas 1% da energia gerada no Pará. 

O professor propõe que dos 19% de energia, 12% fossem de biomassa e 7% do sol. “É um programa para ser alcançado em longo prazo, ou seja, o projeto é de energia para 2020”, explica o professor. “Por mais que o país precise de grande quantidade de energia, há a necessidade de se pensar em diversificação de fontes. Se não houver fontes complementares, virão os impactos ambientais e consequentemente os sociais”, diz ele. Fabrício explica que fontes como a hidrelétrica lançam gases na atmosfera que provocam o efeito estufa e colaboram para o aquecimento global. 

Ele mostra também que o fechamento de um rio por uma barragem provoca alteração estrutural fazendo com que as águas passem de um sistema corrente, para um sistema de água parada.  Com o reservatório implantado, várias toneladas de matéria orgânica entram em decomposição no fundo da represa, liberando gás carbônico e metano. A água parada também favorece o aparecimento de plantas aquáticas. Isso ocasiona a emissão de dióxido de carbono pela decomposição de matéria orgânica acima da água, favorecendo também a produção do metano. “Isso influencia tanto na natureza, que em Tucuruí, por exemplo, ocorreu uma proliferação de insetos e de caramujos”, relaciona.

É por isso que o professor sugere as energias solar e da biomassa. Segundo ele seriam fontes que iriam complementar a energia das hidrelétricas e diminuiriam em grande porcentagem os impactos ambientais, de acordo com cálculos matemáticos. Fabrício explica que é preciso uma pesquisa para se chegar a determinadas conclusões. “Eu não sugiro a eólica, por exemplo, porque a velocidade de vento aqui não é ideal (menos que 4 m/s), e possui inconstâncias. Além disso, aqui tem muita chuva”, explica. “Eu indico a biomassa porque o estado é o terceiro maior beneficiador de espécies florestais do Brasil, conseqüentemente gera grande quantidade de resíduos, o que representa potencial significativo para utilização dessa biomassa para fins energéticos. Já a fonte solar, eu indico porque há uma enorme quantidade de radiação solar que o estado dispõe durante todo o ano”, conclui.

Tabela 2: Emissões de CO² nos estágios de produção de energia (Ton/GWh).
Fontes de eletricidade
Construção
Operação
Total
Carvão mineral
1
962
963
Gás natural
0
484
484
Eólica
7
-
7
Solar
5
-
5
                      Fonte: Renewable Energy Resources: Opportunities and Constraints 1990-2020 - World Energy
                       Council (2001).

“A crise nuclear no Japão impulsionou a energia renovável e fez disparar as ações de energias limpas. As energias limpas registram atualmente rendimentos de U$$ 188 bilhões. Se trata de um crescimento recorde no setor em 2011, pois as ações de empresas de energias renováveis estão atrativas para os investidores. O BNDES aprovou recentemente R$ 790 milhões para a geração de energia eólica”


“Pesquisas recentes afirmam que o Brasil pode ter matriz energética renovável sem reduzir o crescimento econômico e que a matriz energética brasileira pode chegar a 2050 com 93% de fontes renováveis, produzindo o triplo do que é ofertado hoje e considerando a tendência de crescimento econômico”


Por Luiz Cláudio Fernandes
Jornal Diário do Pará, 11 de abril de 2011

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